quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Políticos e povo precisam dialogar desinteressadamente

Flávio Azevedo

O presidente estadunidense Barack Obama foi reeleito no último dia seis de novembro de 2012.
Reeleito para mais um mandato, o presidente dos Estados Unidos, está recebendo o seguinte conselho de analistas políticos: “Obama deverá, todos os dias, entre 18h e 21h, ficar no gabinete recebendo congressistas, empresários e outras personalidades”. Ou seja, se o presidente da nação mais poderosa do mundo precisa ouvir e dialogar, porque o prefeito de Rio Bonito e cidades da região têm que ter postura diferente, sobretudo em relação ao Legislativo? Aliás, antes de qualquer argumentação voltamos à emblemática declaração de Bill Clinton: “a política não precisa ser um esporte sangrento”.

Entretanto, como acontece com todas as histórias, existe o outro lado da moeda. Vereadores, empresários e formadores de opinião precisam aprender a conversar com o chefe do Executivo sem estar esmolando favores, boquinhas, favorecimentos e vista grossa para determinados assuntos que a resposta correta deveria ser um sonoro não. Somos da opinião que os políticos estão de costas para o povo, mas é público e notório que esse povo só se aproxima dos políticos com a intenção de se locupletar (as exceções são raríssimas). Os pedidos, e até algumas cobranças, não visam o coletivo, mas sempre privilegiam o individual.

O prefeito foge dos tais diálogos (algumas vezes, com muita razão), porque essas conversas sempre vêm acompanhadas de propostas indecentes. Emprego para a mãe, para a mulher, para a filha, para o periquito; agregar máquinas, caminhões e Kombis; vista grossa para aquela construção irregular, a aprovação daquele loteamento fora dos padrões; superfaturamentos; essas são apenas algumas das indecências propostas nas conversas que deveriam ter cunho especificamente técnico. As cobranças são necessárias, mas que sejam voltadas para a coletividade.

Existe ainda um terceiro lado dessa história que é pouco analisado. O político deveria expor as propostas indecentes e o autor do impropério proposto, para que este passasse vergonha. O constrangimento é um santo remédio, sobretudo quando se trata de um sujeito que posa de santo e vende a imagem de estar preocupado com o município. Quem não conhece aquele sujeito que se classifica como “oposição”, mas no fundo, no fundo – e no raso também – ele tem esse posicionamento porque não conseguiu o favor que queria. Em muitas oportunidades, o crítico era do grupo, mas como olho cresceu e não foi atendido em sua vaidade, ele virou oposição.

O mais sério disso tudo é que em algumas oportunidades ele até conseguiu algum favorecimento, mas achou pouco. Em alguns momentos o infeliz declara, sem nenhum pudor, que “é ridículo o salário de fome que foi proposto a ele”. Quando você pergunta quanto é o suposto “salário de fome”, ele responde com a cara mais deslavada: “R$ 3 mil”. Recentemente ouvimos um comentário dessa natureza e fizemos a seguinte observação: “num país onde o Salário Mínimo é R$ 622,00, você não acha que ganhar R$ 3 mil (para produzir quase nada) é bem razoável?”. A pessoa não gostou muito da pergunta, mas não podíamos perder essa oportunidade.

Enfim, quando os políticos aprenderem a fazer reuniões coletivas (audiências públicas para tratar de assuntos), parar com esse negócio de atender as conversas de pé de ouvido, passar a tratar dos temas com a coletividade interessada e usar a prática do “eu só converso em público e diante de todos”, as propostas indecentes irão diminuir ou até desaparecer. Mas será que existe esse interesse por parte da classe política? É interessante perder a simpatia daqueles que estão havidos por boquinhas?

É nessa hora que vale a pena bater na velha tecla de que educar o eleitor a pensar de forma coletiva pode representar o desaparecimento dos votos e não ser reeleito numa próxima eleição. Diálogos são necessários, medidas políticas de cunho coletivo é o que há de mais moderno, mas no Brasil, votantes e votados ainda não reúnem interesse por essa prática.

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