domingo, 17 de junho de 2012

A 'síndrome' de Gabriela

Flávio Azevedo

A novela “Gabriela” é um dos grandes sucessos da TV brasileira. Foi ao ar em 1975 e nunca foi esquecida. A atriz Sônia Braga, que deu vida a Gabriela, essa nunca foi esquecida. Para reviver esse grande sucesso de Jorge Amado, a partir dessa segunda-feira (18/06/2012), a TV Globo faz um remake da novela. Dessa vez, porém, quem empresta a sua sensualidade a musa baiana é a atriz Juliana Paes.

Para quem não conhece a história, vale destacar que a trama é ambientada na Bahia dos anos 20, tempo em que os coronéis tinham ainda mais força que hoje. O curioso é que exatamente como acontece em nossa região, que está sendo sacudida pelo fenômeno Comperj, o cotidiano das pessoas está mudando com a chegada de novos moradores e conceitos. Na "fictícia" Ilhéus, assim como na "real" região do Comperj, o embate entre o tradicional e o moderno divide as pessoas.

Esse cenário faz com que o tema "Política" seja um dos assuntos mais abordados da história. O curioso é que embora os expectadores, em sua maioria, estejam interessados na sensualidade de Gabriela e nas sacanagens que rolam no Bataclan (uma casa dedicada ao meretrício), as nuances políticas serão pensadas, sobretudo por serem bem atuais.

As lições são muitas, sobretudo se estivermos falando de cidades interioranas. O refrão da trilha sonora já dá a primeira lição. Aliás, eu diria que ele parece ter sido feito para nós: “EU NASCI ASSIM, EU CRESCI ASSIM, EU SOU MESMO ASSIM, VOU SER SEMPRE ASSIM, VOU MORRER ASSIM”. Ou você nunca encontrou ninguém ASSIM?

Comumente, as “Gabrielas” atuais são formadores de opinião, mas que usam a influência que têm para resistir a modernidade e induzir seguidores ao erro. Estamos falando de pessoas que defendem os seus ilícitos com argumentos simples, às vezes, até razoáveis. Alguns exemplos:

“Bobagem, qual o problema que tem eu construir a minha casa aqui. Qual o problema poluir essa nascente? A terra é minha! Eu comprei!”;

“Qual o problema de estacionar em fila dupla? Rio Bonito é pequeno, todo mundo se conhece, deixa de ser cricri”;

“Acho melhor você deixar isso quieto. O cara no fundo é gente boa. Se você publicar isso a família riobonitense vai ficar envergonhada”;

“Caso você seja vitorioso (a) nas próximas eleições, não faça nenhuma revolução... Deixa do jeito que está e eu te ajudo”;

“Pobre é uma desgraça! Vende o voto por qualquer gole de cachaça! Isso tem que acabar! Mas se eu fechar com você qual o cargo que você vai arrumar pra minha mulher e minha filha? Elas estão precisando muito, sabe?”;

“Ninguém aguenta mais essas mesmas pessoas no poder! Tem que mudar. Só tem safado! Mas a minha mulher (contratada) e o meu caminhãozinho (agregado) tem que continuar”.


Concluindo, eu não acrescentarei nenhum outro comentário, apenas vou repetir o duro e verdadeiro refrão: “EU NASCI ASSIM, EU CRESCI ASSIM, EU SOU MESMO ASSIM, VOU SER SEMPRE ASSIM, VOU MORRER ASSIM”...

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