quinta-feira, 18 de agosto de 2011

A mística Rubro-Negra

Por Flávio Azevedo - Reflexões

O ano era 2007. O Flamengo, do técnico Joel Santana, numa reação incrível, saiu da zona do rebaixamento para as principais colocações do Campeonato Brasileiro. Faltando seis meses para as eleições municipais (dezembro de 2007), eu escrevi esse artigo. Como nós estamos na mesma época – falta um ano para as eleições municipais de 2012 – e o Flamengo novamente vai bem na competição, eu retorno com o mesmo texto por dois motivos: o Flamengo e a sua torcida, não mudaram; e Rio Bonito, os seus políticos e os eleitores, nada mudaram. Boa leitura!


Depois de protagonizar seguidos espetáculos no Campeonato Brasileiro de Futebol da 1ª Divisão, a apaixonada torcida do Clube de Regatas do Flamengo foi declarada pelo prefeito César Maia – que é Botafoguense –, patrimônio cultural da cidade do Rio de Janeiro. Os números apresentados pelo rubro-negro realmente impressionam. Se não alcançou o título de campeão dentro de campo, fora dele o clube da Gávea foi vencedor no quesito público presente. Para se ter uma idéia, é como se em cada rodada do brasileirão – dentro ou fora de casa – o FLA estivesse sempre acompanhado por 39.221 torcedores. Isso sem relacionar os espertinhos que entram sem pagar, sobretudo no Maracanã – estádio que melhor retrata a desorganização que aniquila o nosso tão afamado futebol brasileiro.

Outro destaque interessante, é que o clube carioca, apontado pelos institutos de pesquisa como o time de maior torcida no país (cerca de 33 milhões), obteve oito dos dez maiores públicos da competição, a se destacar o maior deles: praticamente 82.044 rubro-negros vibraram com a vitória de 2x0 sobre o Atlético do Paraná. Em uma belíssima arrancada, o FLA saiu da zona de rebaixamento na tabela do Brasileirão para terminar na terceira colocação. Segundo os rubro-negros, “o FLA não chegou ao vice-campeonato em respeito ao Clube de Regatas Vasco da Gama, que é especialista nessa conquista”.

Provocações à parte, nunca é demais lembrar que assim como César Maia, eu também não sou Flamenguista – nem Botafoguense ou Vascaíno. Apesar disso, eu seria leviano se não admitisse que a torcida rubro-negra fez nas arquibancadas um espetáculo maravilhoso. Um torcedor mais apaixonado colocou no site You Tube um vídeo que ele chama de “A festa mais linda da face da Terra”, onde ele reproduz uma matéria do Globo Esporte que mostrou para o Brasil o canto de muitíssimo bom gosto inspirado no “Tema da vitória” do nosso saudoso Ayrton Senna: “Eu sempre te amarei, onde estiver estarei, oh meu Mengo. Tu és time de tradição, raça, amor e paixão, oh meu Mengo”.

No entanto, a relação que conduziu um time quase rebaixado às primeiras posições do campeonato sugere algumas reflexões para nossa vida cotidiana. Eu não sei quantos já observaram, mas aquela homogênea massa rubro-negra é composta de uma incrível heterogeneidade que eu acredito não deve ser encontrada em nenhum outro lugar. A torcida reúne em um mesmo ideal, pessoas das mais variadas classes sociais. Encontramos ricos e pobres, negros e brancos, feios e bonitos, homens e mulheres, crianças e adultos, solteiros e casados, altos e baixos, magros e gordos etc. Entretanto, todos com uma mesma paixão: o Flamengo. O mais interessante é que no momento do gol, desconhecidos se abraçam como se fossem velhos amigos.

Olhando esse fenômeno eu me lembrei do livro “O que faz do brasil, Brasil”?, do antropólogo Roberto da Matta. De acordo com ele, “a Cultura Brasileira é uma colcha de retalhos, devido a extensa diversidade cultural do nosso Brasil”. Fiquei pensando... Todos nós, independentemente da nossa classe social, econômica, credo religioso etc., torcemos pelo Brasil. Não estou me referindo ao futebol da seleção canarinho, mas a esse país de dimensões continentais que está a perigo e na zona de rebaixamento.

Retomando o exemplo do Flamengo, é bom saber que não foram os senhores Márcio Braga e Kléber Leite, que recuperaram o time. Além disso, embora as contratações do técnico Joel Santana e de alguns atletas – Fábio Luciano (zaga), Cristian (volante) e Ibson (meia de ligação) – tenham dado ao grupo uma consistência maior do que havia nos tempos do técnico Nei Franco, não podemos esquecer que o calor da arquibancada despertou os atletas, que até então estavam modorrentos e sem vontade de jogar.

Voltando ao caso do país, penso que nós somos um grupo de torcedores calados e medrosos. Temos medo de vaiar o adversário e aplaudir os jogadores que defendem as nossas cores. E digo mais, ficamos aguardando a entrada de alguém que está no banco de reservas (outro governante), mas quando esse alguém entra, não é recebido com calor pelos torcedores (o povo). Com isso, os resultados não acontecem. Reconheço que nossos líderes não são craques (Lula, Guido Mantega, Dilma Rousseff, Henrique Meireles, entre outros). Mas quem disse que Fábio Luciano, Cristian e Ibson são? Alguém já tinha visto o Toró jogar? Mas com esse Flamengo ele jogou. A explicação para a mudança é simples: o elevado astral do torcedor fez com que os jogadores acreditassem neles mesmos. Essa autoconfiança espantou as derrotas, o medo de errar e trouxe a confiança e os acertos.

Acredito ser imperioso deixarmos de lado a idéia anacrônica de que um Messias virá nos salvar. Vamos arregaçar as mangas, abandonar o pessimismo e a indolência e, participar efetivamente da vida política e econômica da nação. Para quem não acredita nisso, basta lembrar que o grito da torcida, ou do povo, resultou no impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Melo, em 1992. Concordo que ele foi substituído por iguais. Entretanto, aquela ação serve para provar que quando a torcida se inflama e, se faz presente no jogo, os resultados acontecem. Fecho com um pensamento clichê: “o povo desconhece a força que tem”.

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