quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A ‘companheira Estela’

Por Flávio Azevedo

Escolhida pelo presidente Lula como a sua herdeira política, Dilma Rousseff (PT) contrariou as expectativas machistas, preconceituosas e direitistas e se tornou a primeira mulher, depois da proclamação da República, a governar o Brasil. Aos 62 anos, a mineira de Belo Horizonte/MG percorreu muitos caminhos na política. De guerrilheira e integrante de movimentos revolucionários de combate ao Regime Militar, até alcaçar a presidência da República, o caminho foi longo.

Em abril de 2008, quando o nome de Dilma Passou a ser comentado para suceder o presidente Lula, nós escrevemos sobre ela aqui neste espaço. Destacamos que ela era desconhecida apenas de quem não acompanha a vida política do país. Aliás, é inadmissível que uma pessoa que chefiou o Ministério de Minas e Energia e a Casa Civil não seja conhecida. Essa verdade é a prova daquilo que falamos já há algum tempo neste espaço: a maior parte dos brasileiros são alienados, despolitizados e despreocupado com os rumos do país.

Embora alguns achem essa Dilma forjada pelos marqueteiros mais simpática – precisamos acabar com essa bobagem de valorizar político simpático, porque a real virtude do político é competência e honestidade – eu, particularmente, preferia a ministra de semblante sério, porte altivo e fala firme que gerenciou os mistérios do governo Lula.

Aliás, por conta desse perfil firme, Dilma Rousseff recebeu o apelido de durona, mandona e chata, que são qualidades importantes para quem está no comando. Há quem diga que a presidenta eleita seria rigorosa com horários, perfeccionista no que faz e sôfrega por cumprir tarefas. Atributos que, certamente, colaboraram para que ela fosse escolhida para dar continuidade ao governo petista.

Se a presidenta eleita não é popular, menos conhecida ainda é a ‘companheira Estela’, um dos codinomes da guerrilheira Dilma Vana Rousseff Linhares, que nasceu em 14 de dezembro de 1947, estudou em colégio de freiras e casou duas vezes. O primeiro marido, o jornalista mineiro Cláudio Galeno de Magalhães Linhares, levou a jovem Dilma, com apenas 20 anos, para a luta política. O segundo casamento foi com o, também ex-guerrilheiro, Carlos Franklin Paixão de Araújo, pai da única filha da ministra, Paula, que é juíza do Trabalho em Porto Alegre.

O livro “A Ditadura Escancarada”, do jornalista Élio Gaspari, conta que a companheira Estela foi responsável por uma série de ações de guerrilha durante a ditadura militar. Ela teria ajudado a elaborar três assaltos a bancos e também a carros oficiais que transportavam armas. Um desses veículos teria sido uma Kombi carregada de fuzis. O fato ocorreu em Osasco/SP.

A incursão mais bem sucedida, porém, foi o roubo do cofre de Adhemar de Barros, ex-governador de São Paulo. O episódio aconteceu em 18 de julho de 1969. O cofre ficava escondido na casa do irmão de Ana Capriglioni, amante de Adhemar. A residência ficava situada em Santa Tereza, no Rio de Janeiro. Segundo o relato, 13 guerrilheiros teriam participado da operação, que durou cerca de meia hora. O cofre, que pesava cerca de 300 quilos, conteria US$ 2,5 milhões e documentos. Dilma nunca confirmou participação nessas ações.

Os guerrilheiros eram membros de uma organização marxista chamada de Vanguarda Armada Revolucionária-Palmares (VAR-Palmares). Esse grupo nasceu de uma fusão entre a Vanguarda Revolucionária, de Carlos Lamarca e o grupo Comando de Libertação Nacional (Colina), que tinha a liderança da jovem Dilma Rousseff. Ela não participava das incursões, para não correr o risco de ser presa, já que era a mente que arquitetava as ações.

Mas em janeiro de 1970, Dilma Rousseff, aos 22 anos, foi presa em São Paulo, pela Operação Bandeirantes (Oban). Ela ficou detida no Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), local onde os inimigos da ditadura desapareciam e/ou eram ‘SUICIDADOS’, como aconteceu com o jornalista Wladimir Herzog. A própria Dilma conta o que aconteceu durante os dias em que esteve em poder dos militares. “Levei muita palmatória, me botaram no pau-de-arara, me deram muito choque. Tive hemorragia, mas agüentei e não disse nem onde morava”.

Ela comentou esse fato durante a sua participação numa Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado Federal, em 2008. A narrativa emocionada foi uma resposta que Dilma deu a um dos muitos, como diria Leonel Brizola, filhotes da Ditadura, o senador José Agripino Maia (DEM), tradicional ‘coronel’ do Rio Grande do Norte.

Como outros aproveitadores daquela região do Brasil, este senhor alcançou fortuna lustrando a botina dos militares durante os anos de chumbo. À época, ele e os seus comparsas políticos não tinham tempo de verificar as atrocidades cometidas contra aqueles que lutavam contra a ditadura militar, por estarem ocupados explorando os seus conterrâneos que sofriam com fenômenos como a seca, a desnutrição, a miséria, a falta de Educação etc.

Essa realidade motivou o êxodo dos nordestinos para o eixo Rio/São Paulo, metrópoles que 40 anos depois enfrentam problemas sociais sérios como violência, alienação, infantilidade, falta de oportunidades, educação precária e o mal do século: a passividade.

Um comentário:

  1. A campanha eleitoral foi medíocre. Aliás, até Sua Santidade, o Papa, entre outros líderes religiosos se meteram no processo. Eles esqueceram que o estado é laico, e que Deus não tem partido, por ser Ele criador de petistas, tucanos, integrantes do PCO, entre outros. Esse tema sugere uma pergunta reflexiva: quando será que nós teremos políticos e eleitores, sérios e conscientes no Brasil? Pelo nível dessa última eleição, parece que essa, infelizmente, é uma realidade distante!

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